Na minha família, todos gostamos muito de música. Todos. No almoço de domingo na casa da minha mãe, tem música, nas noites de pizza, tem música, no dia-a-dia, você chega na casa da minha mãe e já ouve música.
Aqui em casa, tem aparelho de som no nosso quarto, no da filha, no da enteada, na sala e na cozinha – este sempre ligado. Além dos sons nos carros e dos Ipods, que nos acompanham pela rua.
O principal incentivador do meu gosto por música, foi meu pai, assim como o gosto por cinema. Meu pai é uma pessoa simples, foi metalúrgico a vida inteira, mas sempre foi um entusiasta da cultura. E quando eu era criança, a trilha sonora obrigatória nos finais de semana, nas festinhas, era Elvis Presley, Michael Jackson (ou Jacksons Five), Roberto Carlos contando o que fazia nas curvas da estrada de Santos e Wilson Simonal avisando que era dia de sopa. Era isso o que ouvíamos na vitrolinha, porque mesmo sendo criança, não me lembro de músicas infantis, não.
Bem, um pouco antes de completar nove anos, no dia 16 de agosto de 1977, eu estava de bobeira em frente à TV, esperando minha mãe terminar o jantar, quando o Sérgio Chapelin veio dar as notícias que seriam destaque no JN e a principal delas era: Elvis estava morto! Corri pra avisar meu pai, que estava no banho e que saiu esbaforido pra confirmar se a notícia era verdadeira. E era. Até hoje me lembro da fila interminável de carros chegando a Memphis pra dar adeus ao Rei, ao meu Rei, ao Rei da nossa família.
O tempo se passou e eu nunca deixei de ouvir Elvis, mas na década de 80, início da adolescência, eu suspirava por aquele negro lindo, magérrimo, de voz fantástica e swing sem igual. Eu e minhas amigas da escola, queríamos nos casar com Michael Jackson! Thriller era o vinil mais tocado em casa e as coreografias imitadas à exaustão em frente à TV, quando passava um clip (lembrem-se naquela época não tinha MTV).
O tempo se passou, como sempre passa, meus ídolos agora eram mais rebeldes, vestiam couro e jeans rasgados e atendiam pelo nome de Ramones, meus cabelos foram pintados de roxo, meu guarda-roupa era preto e eu usava coturnos. Mas nunca, nunca deixei de ouvir Elvis e Michael.
Ontem, por volta das 20h, eu estava tomando banho, quando a estória se repetiu, minha filha, bate na porta, gritando: “mãe, o Michael Jackson morreu!” Eu achei que fosse mais uma brincadeira de mau gosto em torno da pessoa, mas sabe como é, saí rapidinho e liguei a TV na Globonews, onde ainda não se confirmava a morte dele, mas sim sua internação devido à uma parada cardiorespiratória. Fiquei ali parada, mas já sabia que era verdade, que ele estava morto. E foi assim que eu soube que mais um rei tinha ido embora da minha vida. Liguei pro meu pai, que estava incrédulo. É, como disse minha mãe: “pra morrer, basta estar vivo!”
Meus outros ídolos também já morreram: Renato Russo, Cazuza, Tom Jobim e do Ramones, só resta um vivo. David Bowie, te cuida aí, querido!